Se ainda não esqueceste
As manhãs em que a sorrir nos levantámos depois
De uma noite sem dormir
Se ainda não esqueceste
O acordar da tristeza ao ver as horas passar
E o jantar frio na mesa
Se ainda não esqueceste
Cartas que então escrevi
Se ainda abres por vezes os livros que te ofereci
Se ainda sabes de cor as cores que sempre vesti
Canções que sempre cantei
E as cores que sempre escolhi
Sabes,
Eu ainda passo muitas noites sem dormir
Mas de manhã ao levantar sinto frio e já não sei sorrir
E as cartas que te escrevo
Mas que acabo por rasgar
São sempre iguais
Só falam de amor
Pedem-te para voltar
Se ainda não esqueceste
Os momentos de prazer que uma criança nos deu
Desde que a vimos nascer
Ao fim de um dia de Verão
Passeios à beira-mar
Deixando atrás pela areia
Os pés marcados a par
Se ainda não esqueceste
Os silêncios quebrei
Para não dizer-te a chorar:
"Foste o único que amei!"
Se ainda não esqueceste
O dia em que nasci
A nossa primeira noite
O pouco que te pedi
Sunday, November 06, 2011
Saturday, September 17, 2011
Monday, June 13, 2011
"Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...
O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...
Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar..."
Fernando Pessoa
Amor.
Cada dia sem gozo não foi teu
Cada dia sem gozo não foi teu
Foi só durares nele.
Quanto vivas Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
Ricardo Reis
Foi só durares nele.
Quanto vivas Sem que o gozes, não vives.
Não pesa que amas, bebas ou sorrias:
Basta o reflexo do sol ido na água
De um charco, se te é grato.
Feliz o a quem, por ter em coisas mínimas
Seu prazer posto, nenhum dia nega
A natural ventura!
Ricardo Reis
Sunday, June 05, 2011
Eu importo-me.
Primeiro levaram os negros
Mas eu não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas eu não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas eu não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como eu tenho o meu emprego
Também não me importei
Agora estão a levar-me a mim
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
Mas eu não me importei com isso
Eu não era negro
Em seguida levaram alguns operários
Mas eu não me importei com isso
Eu também não era operário
Depois prenderam os miseráveis
Mas eu não me importei com isso
Porque eu não sou miserável
Depois agarraram uns desempregados
Mas como eu tenho o meu emprego
Também não me importei
Agora estão a levar-me a mim
Mas já é tarde.
Como eu não me importei com ninguém
Ninguém se importa comigo.
Bertold Brecht (1898-1956)
Sunday, April 17, 2011
Friday, March 25, 2011
Metade
"E que a força do medo que tenho, não me impeça de ver o que anseio, Que a morte de tudo o que acredito, não me tape os ouvidos e a boca: porque metade de mim é o que grito, mas a outra metade é silêncio."
Que a música que ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo,
seja para sempre amada, mesmo que distante:
porque metade de mim é partida,
e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo,
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas como a única coisa que resta
a uma pessoa inundada de sentimento:
porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora,
se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que corre por dentro
seja um dia recompensada:
porque metade de mim é o que penso,
e a outra é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste,
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto, o doce sorriso
que me lembro ter dado na infância:
porque metade de mim é a lembrança do que foi,
a outra metade, eu não sei.
Não seja preciso mais que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito,
e que o teu silêncio me fale cada vez mais:
porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma reposta,
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar:
porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer,
porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada,
porque METADE DE MIM É AMOR, E A OUTRA METADE, TAMBÉM."
Oswaldo Montenegro
Que a música que ouço ao longe,
seja linda, ainda que triste.
Que a mulher que eu amo,
seja para sempre amada, mesmo que distante:
porque metade de mim é partida,
e a outra metade é saudade.
Que as palavras que eu falo,
não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor,
apenas respeitadas como a única coisa que resta
a uma pessoa inundada de sentimento:
porque metade de mim é o que ouço,
mas a outra metade é o que calo.
Que essa minha vontade de ir embora,
se transforme na calma e na paz que eu mereço.
Que essa tensão que corre por dentro
seja um dia recompensada:
porque metade de mim é o que penso,
e a outra é um vulcão.
Que o medo da solidão se afaste,
Que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.
Que o espelho reflita em meu rosto, o doce sorriso
que me lembro ter dado na infância:
porque metade de mim é a lembrança do que foi,
a outra metade, eu não sei.
Não seja preciso mais que uma simples alegria
para me fazer aquietar o espírito,
e que o teu silêncio me fale cada vez mais:
porque metade de mim é abrigo,
mas a outra metade é cansaço.
Que a arte nos aponte uma reposta,
mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar:
porque é preciso simplicidade para fazê-la florescer,
porque metade de mim é platéia,
e a outra metade é canção.
E que a minha loucura seja perdoada,
porque METADE DE MIM É AMOR, E A OUTRA METADE, TAMBÉM."
Oswaldo Montenegro
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